Regras da escrita científica

Apresentação

Há uma lacuna na formação acadêmica de nossos estudantes relacionada à escrita científica. O entendimento sobre o processo de publicação é um tema frequente nas conversas entre os alunos das pós-graduações nas áreas da Saúde e da Biologia. Mesmo os docentes das grandes universidades no Brasil não tiveram a oportunidade de receber um treinamento sobre como elaborar um artigo científico com qualidade suficiente para ser aceito em um periódico de circulação internacional. A repercussão dessa incapacidade de escrever e divulgar o conhecimento científico é notada no número pequeno de programas de doutoramento credenciados pela Capes, principalmente no Norte-Nordeste do Brasil. Sem falar que muitos programas de pós-graduação stricto sensu foram recentemente descredenciados pela Capes pelo baixo número de artigos publicados em jornais classificados como Qualis A na Capes (i.e., com fator de impacto maior que 4-5) tanto pelos docentes como pelos discentes, e.g. mestrandos e doutorandos.
Orientar alunos no mestrado, doutorado ou no pós-doutorado só é permitido para docentes comfrequente produção científica em periódicos internacionais, pelo menos para aqueles docentes que atuam nas áreas da Medicina e da Biologia. É muito preocupante esta ameaça de “extinção” de nossos programas de pós-graduação pela dificuldade na publicação dos resultados de teses de mestrado e doutorado pelos alunos que finalizam seus estudos. Assim, achamos pertinente escrever sobre este tema a fim de (1) auxiliar os iniciantes na carreira acadêmica na construção de cada tópico de um artigo científico, (2) orientar o autor na submissão da monografia no jornal escolhido para publicação, (3) citar alguns detalhes relacionados com o acompanhamento dos processos editorial e de revisão, e (4) orientar os autores para observar com atenção os ajustes solicitados pelos revisores. Isso tudo visando a tão sonhada publicação do artigo científico. Este livro está dividido em três partes. A primeira delas apresenta os tópicos ou secções que são encontrados em um manuscrito, relacionados com um desenho de pesquisa clássico, classificado como “artigo original”. Desta forma, orientamos como um artigo deve ser escrito com uso de algumas regras práticas. Aqui vale salientar que nos periódicos classificados pela Capes como “Qualis A1” menos de 20% dos artigos submetidos são aceitos para publicação. Não basta apenas ser bem escrito, os artigos competem entre si no sentido de abordar temas atrativos para serem lidos e posteriormente citados por outros autores; assim elevando ainda mais o fator de impacto da revista científica. Na segunda parte do livro são detalhados as etapas para conseguir a sonhada publicação nessas revistas científicas. Tratamos desde a seleção do jornal, a realização da submissão do artigo, o acompanhamento da revisão, realização e justificativa dos ajustes solicitados pelo pareceristas/revisores, até o aceite para a eventualpublicação.
Na última parte comentamos brevemente sobre métricas científicas tão em voga nos últimos anos. Nós pesquisadores somos avaliados não só pelo número de artigos que publicamos, como também onde publicamos, mas também, principalmente, pelo número de citações que cada um de nossos artigos receberam.
Não é uma tarefa fácil escrever um manuscrito científico. Antes de iniciar a escrita temos de escolher o jornal mais apropriado para submeter o estudo, adaptando a estrutura com as normas do jornal selecionado. Nem sempre um artigo com qualidade excepcional é aceito para publicação. O fato de um artigo ser rejeitado não significa que o artigo não apresente dados e resultados importantes. Vários cientistas que ganharam o Prêmio Nobel tiveram a insatisfação de ter o artigo, relacionado com o prêmio, inicialmente rejeitado.
Nesta obra básica partilhamos também algumas “dicas” que depois de muitos “nãos” dos jornais (i.e., artigo rejeitado), juntamente com nossa experiência como editores e revisores nos permitiram enumerar informações importantes para otimizar a chance de publicação.
Esperamos que a leitura deste livro auxilie na formação da carreira acadêmica daqueles que atentaram que o sucesso de um pesquisador ou de um docente depende não somente do ensino aos mais jovens, mas principalmente na publicação e divulgação de seus achados para a comunidade científica